sexta-feira, 2 de outubro de 2015

"Oju Orum"

Exibindo foto.AliciaPeres.2.jpg
Foto: Divulgação
O papel da mulher e os muitos discursos de poder por trás da construção de gênero são alguns dos temas abordados no terceiro espetáculo do grupo


Quatro mulheres (Anastácia, Alice, Alzira e Anita) em quatro períodos históricos distintos. Em comum, elas tem o fato de serem mulheres que, em algum momento de suas trajetórias, tiveram contato com algum tipo de violência, seja ela simbólica ou não. Com esse mote, o Coletivo Quizumba estreia OJU ORUM dia 8 de outubro, quinta-feira, às 20 horas, na Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho, no Ipiranga.

A montagem, com direção de Johana Albuquerque, é focada no público jovem e tem como base de sua pesquisa elementos da cultura africana e afro-brasileira, tais como a Capoeira Angola, o Samba, o Funk e as narrativas orais. A pesquisa para a dramaturgia desse espetáculo surgiu das muitas versões da história da negra Anastacia (Oju Orum, originalmente), trazida ao Brasil como escrava. Paralela à esta pesquisa, o Coletivo Quizumba realizou uma série de Núcleos de Investigação no distrito do Jabaquara, recolhendo histórias de mulheres de diferentes idades e regiões do Brasil.

Quatro vozes que tentam ser ouvidas
OJU ORUM apresenta a história de quatro mulheres, cujas narrativas expõem, simbolicamente, os discursos de poder que estão por trás da construção de gêneros. Caladas em suas falas e corpos, essas jovens procuram construir uma voz que lhes permita questionar e ressignificar suas vidas.

A inspiração para as histórias e construção da dramaturgia vieram das pesquisas que o grupo realizou em parceria com diversas Ongs do Jabaquara. A história da negra Anastácia (cujo nome verdadeiro seria Oju Orum) foi o elemento disparador da pesquisa. Muitas são as versões sobre sua origem: há relatos de que ela teria sido uma princesa africana trazida à força para o Brasil. Outras fontes dão conta de que ela teria nascido aqui mesmo, em terras tupiniquins, mas teria uma ascendência real. Qualquer que tenha sido o local exato do seu nascimento, todas as versões concordam em afirmar que, apesar do contexto histórico de escravidão em que estava inserida, Anastácia/Oju Orum se levantou como uma voz que não se conformava com o destino que lhe haviam traçado. Em alguns lugares do país, ela é cultuada como santa popular até os dias de hoje.

 ainda as histórias de outras três mulheres: Alice, uma adolescente que acabou de virar "mocinha", vive com o pai no sertão nordestino do início do século passado. Ela busca a todo custo encaixar-se nos  paradigmas do que é ser uma mulher em seu tempo. Na década de 70 temos Alzira, uma mineira, com ideias e anseios na contra-mão do esperado, desejos que não cabiam na cidadezinha onde nascera. Grávida, ela se muda para o Rio de Janeiro sozinha e tentarácontar ela mesma a sua história. O enredo se completa com Anita, uma jovem contemporânea, moradora da periferia de São Paulo. Conectada como qualquer adolescente hoje em dia, Anita está ainda descobrindo sua sexualidade e tem o sonho de construir uma casa para a família. Sua história dá uma reviravolta quando uma self íntima vaza nas redes sociais.

O espetáculo não pretende trazer uma versão da mulher como vítima, e sim como ser histórico, trazendo à tona histórias de mulheres comuns, suas vivências, experiências e lutas. “Buscamos narrativas que vão para além da história hegemônica que impõe, em geral, a perspectiva masculina, heteronormativa, adulta, branca e urbana”, fala o dramaturgo Tadeu Renato.
 Elenco – Camila Andrade, Jefferson Matias, Kenan Bernardes, Thais Dias e Valéria Rocha. Direção e Concepção Musical – Jonathan Silva. 

Temas densos
Um dos grandes desafios de Johana Albuquerque, diretora convidada para dirigir este projeto do grupo,  foi transformar a extensa e profunda pesquisa de campo realizada pelo Coletivo Quizumba em imagens poderosas e construir uma linguagem que pudesse cativar o público jovem. OJU ORUM vem tratar de inúmeros temas e episódios que perpassam a vida cotidiana da adolescência de meninas e meninos (questões de gênero, sexualidade, relação familiar e amor). “O meu trabalho consistiu em selecionar todo um universo de informações que o grupo trouxe de suas pesquisas e sintetizar o que de melhor havia nas histórias, transformando esse material em algo poético e belo”, explica Johana.

A diretora conta como a pesquisa do Coletivo Quizumba foi levada para a cena. “Os aspectos da cultura africana e afro-brasileira, bases da pesquisa do grupo, encontraram na dança, nas músicas e canto um lugar de extraordinária expressividade. Esses elementos fazem parte do repertório e talento do Coletivo Quizumba.”

OJU ORUM – Estreia em 8 de outubro, quinta-feira, às 20 horas. Temporada – De quinta-feira a sábado às 20 horas e domingo às 19 horas.Até 8 de novembro.
Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho.– Rua Silva Bueno, 1533 - Ipiranga. Telefone para informações – (11) 2060-0318.Capacidade – 60 lugares.
Ingressos – R$ 10,00 (inteira)/ R$ 5,00 (meia - estudantes, maiores de 60 anos, classe artística e moradores do bairro Ipiranga). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário