terça-feira, 25 de julho de 2017

Boca de Ouro

Estreia dia 11 de agosto no Teatro Tucarena com direção de Gabriel Villela

Um cordão típico das gafieiras mais tradicionais do país abre a versão de Villela para a tragédia carioca de Nelson Rodrigues(1912-1980), escrita em 1959.  No elenco estão Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno.
Foto: João Caldas

Boca de Ouro é um lendário bicheiro carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro. Também é conhecido como o Drácula de Madureira. Quando Boca é assassinado, seu passado é vasculhado por um repórter. Sua fonte é dona Guigui, a volúvel ex-amante do contraventor, uma mulher que, ao longo da peça, revela diferentes versões do bicheiro.
Malvino Salvador é Boca de Ouro, Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco, e Lavínia Pannunzio vive a transtornada Guigui, ao lado de Leonardo Ventura, que faz seu fiel e apaixonado marido, Agenor. Chico Carvalho é Caveirinha, o repórter rodriguiano, que carrega em si o olhar afiado e crítico do dramaturgo-jornalista, que durante anos trabalhou em Redações e conheceu ele próprio os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luisa. Cacá Toledo e Guilherme Bueno completam o elenco.
Jonatan Harold assume o piano desta gafieira carioca oferecendo a ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar as canções imortalizadas por Dalva de Oliveira (1917-1972).

Como toda a ação proposta por Nelson Rodrigues parte da mente contraditória de Dona Guigui, as diferentes narrativas da personagem são exploradas pelo encenador de forma muito diversa. A cada versão de Guigui, a arena de Villela circula, ressaltando o espaço arquetípico convergente, assim como o salão circular de uma gafieira, ou um ciclo de vida que se encerra.
Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do Candomblé e das mascaradas astecas no espetáculo. A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura de Iansã,(Guilherme Bueno) aparece toda vez que uma cena de morte acontece. Iansã faz a contrarregragem das mortes da estória.
O Brasil cabe todo nesta arena: a política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a música. Retratos de uma época que nos mostram que o Brasil pouco mudou, e que nosso dramaturgo nascido em Pernambuco em 1912 e radicado no Rio de Janeiro, nunca foi tão atual.
Além da direção, Gabriel Villela assina os figurinos e a cenografia. A iluminação é de Wagner Freire, a direção musical e preparação vocal são assinadas por Babaya e a espacialização e antropologia da voz por Francesca Della Monica. Os diretores assistentes Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo completam a equipe criativa.
As diferentes narrativas para um mesmo fato, impulsionadas pelos amplos aspectos psicológicos dos personagens, cerne da dramaturgia de Boca de Ouro, já foi anteriormente explorada em Rashomon, de Kurosawa, filme que descreve um estupro e assassinato por meio dos relatos amplamente divergentes de quatro testemunhas, e também em Assim É Se Lhe Parece, de Pirandello, na qual os depoimentos conflitantes da sogra e do genro sobre suas situações familiares geram curiosidade doentia nos moradores da cidade no interior da Sicília.
Esta é a terceira montagem de Nelson Rodrigues feita por Gabriel Villela. Em 1994 ele montou A Falecida, com Maria Padilha no papel título, depois foi a vez de Vestido de Noiva, em 2009, protagonizado por Leandra leal, Marcello Antony e Vera Zimmerman. 

Teatro Tucarena. Sex e Sáb 21h, Dom 18h30. R$ 50 (sex), R$ 50 e R$ 70 (sáb e dom). Gratuidade a portadores de deficiência. Classificação 14 anos. Estreia 11/8. Até 29 de outubro.
(300 lugares) Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira) – Perdizes: 3670.8455 / 8454

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